Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

Palavras-chave | Keywords

"Boca do Rio" "Ermida da Guadalupe" "Farol de São Vicente" "Fauna e Flora" "Fortaleza de Sagres" "Gentes & Paisagens" "Gentes de Vila do Bispo" "Geologia e Paleontologia" "História do Mês" "Martinhal" "Menires de Vila do Bispo" "Paisagens de Vila do Bispo" "Tales from the Past" "Vale de Boi" 3D Abrigo Antiguidade Clássica Apicultura ArqueoAstronomia Arqueologia Experimental Arqueologia Industrial Arqueologia Pública Arqueologia Subaquática Arquitectura arte Arte Rupestre Artefactos Baleeira Barão de São Miguel Base de Dados Bibliografia biodiversidade Budens Burgau Calcolítico Carta Arqueológica de Vila do Bispo Cartografia Cetárias Cista CIVB-Centro de Interpretação de Vila do Bispo Complexo industrial Concheiro Conservação e Restauro Descobrimentos Divulgação Educação Patrimonial EPAC Escolas & Paisagens de Vila do Bispo Espeleo-Arqueologia Estacio da Veiga Estela-menir Etnografia Exposição Figueira Filme Forte Fotografia Geographia Grutas Homem de Neandertal Idade Contemporânea Idade do Bronze Idade do Ferro Idade Média Idade Moderna Iluminados Passeios Nocturnos Ingrina Islâmico Landscape marisqueio Medieval-Cristão Megalitismo menires Mesolítico Mirense mitos & lendas Moçarabe Moinhos Museologia Navegação Necrópole Neo-Calcolítico Neolítico Neolítico Antigo NIA-VB Paleolítico Património Edificado Património natural Património partilhado Pedralva Pesca Povoado Pré-história Proto-história Raposeira Recinto Megalítico/Cromeleque Referências RMA Romano Roteiro Sagrado Sagres Salema Santos Rocha São Vicente Seascape Toponímia Vila do Bispo Villa Romana
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História do Mês de Novembro | Farol de Dom Fernando o farol do Cabo de São Vicente

A ‘História do Mês’ consiste numa iniciativa expositiva do Centro de Interpretação de Vila do Bispo iniciada em janeiro de 2015 onde, mensalmente, se apresenta um objeto e um associado discurso informativo. Além da divulgação, valorização e partilha de determinados apontamentos e curiosidades da memória coletiva do território, pretende-se, com esta iniciativa, provocar hábitos de visita ao nosso equipamento cultural.

Para novembro de 2017 reservámos mais uma história antiga... a história do nosso farol, o Farol de Dom Fernando, um dos 10 mais potentes e luminosos faróis em todo o Mundo, o farol que domina a 'porta' do Mediterrâneo, uma das mais frequentadas esquinas náuticas dos mares do Ocidente, a ponta mais sudoeste da Europa Continental... o Cabo de São Vicente.

Venha conhecer esta História, passe pelo Centro de Interpretação de Vila do Bispo e aproveite a oportunidade para visitar a exposiçãopatente até ao final do ano, intitulada "Era uma Vez em Vila do Bispo... uma viagem desde a Pré-história ao Mundo Romano".






































Farol de Dom Fernando
o farol do Cabo de São Vicente

Dominado a ponta mais sudoeste de todo o Continente Europeu, numa das mais frequentadas ‘esquinas’ náuticas do planisfério ocidental, o farol do Cabo de São Vicente, originalmente denominado de Farol de Dom Fernando, localiza-se no interior da fortaleza de São Vicente, na freguesia de Sagres, concelho de Vila do Bispo.
Atualmente apresenta uma grande lanterna vermelha, cintada por um varandim da mesma cor, sobre uma torre cilíndrica em cantaria, com edifício anexo, impondo-se naquela paisagem do alto dos seus 28 metros de altura.
Conforme inscrição em lápide que se encontra no portão de entrada da muralha filipina (século XVII) que o defende, «Este farol foi mandado construir por ordem da Rainha, a Senhora D. Maria II, sendo o Diretor dos Faróis do Reino o Brigadeiro General A.C.C.P. Furtado», entrado em funcionamento em outubro de 1846.
Porém, as suas origens são muito mais remotas. Documentação histórica referencia, em 1520, no Cabo de São Vicente, um rudimentar equipamento luminoso de auxílio à navegação, instalado numa torre do convento ali existente à época.
Na sua versão de meados do século XIX, o aparelho luminoso começou por ser alimentado a azeite, emitindo dois clarões de dois segundos a cada dois minutos de período, com um alcance luminoso que rondava as 6 milhas náuticas, cerca de 11 km (1 milha náutica = 1852 metros).
Entretanto, o farol de Dom Fernando passou por um longo período de falta de manutenção, atingindo um estado de quase ruina. Em 1897, devido às suas precárias condições e ao insuficiente rendimento da sua luz, foram desenvolvidos necessários trabalhos de remodelação. Com estas obras, a torre foi aumentada em 5,70 metros e o aparelho óptico original foi substituído por um novo, mais avançado, o melhor existente à época. As obras duraram 11 anos e, em 1908, o farol recomeçou a trabalhar com um novo aparelho hiper-radiante, que ainda se encontra em funcionamento atualmente.

«Com efeito, foi instalado um aparelho lenticular de Fresnel de 1330 milímetros de distância focal – o que lhe confere a categoria de hiper-radiante, atualmente a maior óptica que existe nos faróis portugueses e um dos dez maiores do mundo, consistindo em três painéis ópticos de oito metros quadrados com 3,58 metros de altura, flutuando em 313 quilogramas de mercúrio. A fonte luminosa instalada, era um candeeiro de nível constante de cinco torcidas, passando, anos mais tarde, a funcionar com a incandescência pelo vapor de petróleo. A rotação da óptica era conseguida através de um mecanismo de relojoaria».

Revista da Armada, N.º 358, Ano XXXII, novembro, 2002

Ainda hoje um dos 10 mais potentes/luminosos faróis em todo o Mundo, desde 1908 que o Farol de Dom Fernando passou a iluminar, entre o pôr e o nascer-do-sol, noite após noite, com um período de 15 segundos e 5 relâmpagos e um alcance luminoso que ronda as 33 milhas náuticas (cerca de 61 km).
O conjunto de lentes “Fresnel” que este nosso farol ainda utiliza, assenta na teoria da óptica ondulatória e do sistema dióptrico-catróptrico da refração e reflexão da luz, permitindo, através de um jogo de lentes escalonadas, duplicar o alcance da fonte de luz. Este importante incremento para a segurança na navegação, ainda hoje utilizado à escala global, deve-se ao físico francês Augustin Fresnel (1788-1827).
Em 1914 o Farol de Dom Fernando foi equipado com um complementar sinal sonoro para condições de nevoeiro, uma sirene ou “sereia” a vapor, que, pela sua característica sonoridade, era localmente conhecida por “a vaca”, sendo facilmente audível na Vila do Bispo, a cerca de 10 km. Este sistema sonoro foi entretanto substituído por um equipamento elétrico, direccionalmente mais concentrado no mar e menos audível em terra.
Em 1926 foram instalados motores-geradores, o que permitiu a substituição da então lanterna a vapor de petróleo por uma lâmpada eléctrica.
Em 1947, face às modernas necessidades militares da Segunda Guerra Mundial, foram-lhe instalados painéis deflectores, tornando-se, assim, num farol aeromarítimo, ou seja, um sistema de apoio à navegação marítima e aérea.
Em 1948 o Farol de Dom Fernando é finalmente ligado à rede pública de abastecimento de energia eléctrica, mantendo os geradores para cobrir eventuais falhas. Um ano depois, em 1949, recebe um rádio-farol, automatizado em 1982, e que funcionou até ao ano de 2001.
Como é sabido, a palavra “farol” tem origem na ilha de Pharos e no seu mítico Farol de Alexandria. O farol de Pharos, guardião da ilha que lhe deu nome, à entrada do porto de Alexandria, no Egito, não terá sido, certamente, o primeiro a ser erigido pelos povos da antiguidade, embora não sejam conhecidas seguras referências a outros faróis mais antigos. Reconhecido como uma das 7 Maravilhas da Antiguidade, por Antípatro de Sídon (200 a.C.), a importância do farol de Pharos foi tal que este tipo de estruturas acabaram por adoptar o seu mítico nome: Pharos - farol. O farol de Pharos foi desenhado e construído entre 290 a.C. e 270 a.C., pelo arquiteto e engenheiro grego Sóstrato de Cnido, por ordem de Petolomeu Soter.

Características do Farol de Dom Fernando – Cabo de São Vicente:

Localização - Cabo de São Vicente/Sagres/Vila do Bispo
Posição - Latitude, 37º 01,3’ Norte; Longitude, 08º 59,7’ Oeste
Estrutura - torre cilíndrica branca, com edifício anexo
Altura da torre - 28 metros
Sistema iluminante – lanterna vermelha, óptica em cristal direcional rotativa
Luz - branca
Alcance luminoso - 32 milhas náuticas
Ano de estabelecimento - 1846
N.º Nacional - 436
N.º Internacional - D-2168

«Vindo de Ruão para Argel, em Setembro último (1932), no vapor Ange Schiaffino, amanheceu-nos no Cabo de S. Vicente, e tão perto de terra firme o dobrámos que estivemos, por assim dizer, à fala com a gente do farol».
Teixeira-Gomes, Regressos, 1935

pesquisa, texto e fotografia

Ricardo Soares (arqueólogo, CMVB)