Feliz quem tem uma PEDRA em SAGRES

Palavras-chave | Keywords

"Boca do Rio" "Ermida da Guadalupe" "Farol de São Vicente" "Fauna e Flora" "Fortaleza de Sagres" "Gentes & Paisagens" "Gentes de Vila do Bispo" "Geologia e Paleontologia" "História do Mês" "Martinhal" "Menires de Vila do Bispo" "Paisagens de Vila do Bispo" "Tales from the Past" "Vale de Boi" 3D Abrigo Antiguidade Clássica Apicultura ArqueoAstronomia Arqueologia Experimental Arqueologia Industrial Arqueologia Pública Arqueologia Subaquática Arquitectura arte Arte Rupestre Artefactos Baleeira Barão de São Miguel Base de Dados Bibliografia biodiversidade Budens Burgau Calcolítico Carta Arqueológica de Vila do Bispo Cartografia Cetárias Cista CIVB-Centro de Interpretação de Vila do Bispo Complexo industrial Concheiro Conservação e Restauro Descobrimentos Divulgação Educação Patrimonial EPAC Escolas & Paisagens de Vila do Bispo Espeleo-Arqueologia Estacio da Veiga Estela-menir Etnografia Exposição Figueira Filme Forte Fotografia Geographia Grutas Homem de Neandertal Idade Contemporânea Idade do Bronze Idade do Ferro Idade Média Idade Moderna Iluminados Passeios Nocturnos Ingrina Islâmico Landscape marisqueio Medieval-Cristão Megalitismo menires Mesolítico Mirense mitos & lendas Moçarabe Moinhos Museologia Navegação Necrópole Neo-Calcolítico Neolítico Neolítico Antigo NIA-VB Paleolítico Património Edificado Património natural Património partilhado Pedralva Pesca Povoado Pré-história Proto-história Raposeira Recinto Megalítico/Cromeleque Referências RMA Romano Roteiro Sagrado Sagres Salema Santos Rocha São Vicente Seascape Toponímia Vila do Bispo Villa Romana
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A Revolução Neolítica e os primeiros pastores-agricultores



Encontramo-nos nos alvores da 1.ª e maior revolução da História da Humanidade – a Revolução Neolítica. Com epicentro de origem na região do Próximo Oriente, há cerca de 12.000 anos, as suas ondas de impacto “rapidamente” se difundiram por via terrestre, ao longo dos grandes rios e por mar. Progressivamente, “saltitando” através da costa mediterrânea, a primeira vaga destes ecos de mudança acabam por atingir o nosso extremo continental, há cerca de 6.000 anos.
Na prática, o Neolítico traduz-se no advento de um revolucionário pacote de novidades: a técnica da pedra polida (“neo-lítico” 8), a domesticação de animais e de plantas e a descoberta da tecnologia cerâmica.
No âmbito da produção de instrumentos de pedra, além de um evolutivo aperfeiçoamento de técnicas precedentes, surge a técnica da “pedra polida”, designadamente nos machados, também conhecidos por “pedras de raio” 9.
Muito paulatinamente, foram dominados alguns animais selvagens, por cruzamento selectivo de espécimes mais “mansos”, particularmente a cabra, a ovelha, o boi (auroque) e o porco (javali), enquanto o cão há muito que acompanhava fielmente o Homem. Também foram seleccionados e domesticados determinados tipos de cereais (trigo e cevada) e de leguminosas (ervilha, lentilha e fava), emergindo uma inédita “cultura agrícola”.
Por fim, mas não de menor importância, assinala-se a descoberta da tecnologia cerâmica. Tendencialmente feminina, a alquimia da arte oleira irá, pela primeira vez na História da Humanidade, convocar os 4 elementos para a transformadora criação de uma matéria nova. Os recipientes de barro cozido vão agora possibilitar a transformação dos alimentos ao fogo e o armazenamento e conservação de excedentes agro-pecuários, assumindo, ainda, uma função simbólica nos rituais funerários.
Munidas destas inovações, surgem, então, as primeiras sociedades de pastores-agricultores.
Porém, estes contagiantes elementos, disseminados por gentes neolitizadas, não foram contactados e absorvidos de forma linear e homogénea pelas pré-existentes comunidades nómadas de caçadores-recolectores mesolíticos. É certo que o choque cultural aconteceu, resta saber a que nível.
A emergência do fenómeno neolítico, no sul do território actualmente português, e a forma como as suas determinantes inovações foram disseminadas, tem sido explicada segundo dois diferenciados modelos teóricos: o modelo difusionista e o modelo indigenista. No caso do modelo difusionista, as novidades do pacote neolítico terão sido propagadas por expansão cultural de grupos neolíticos que, por via marítima, colonizam e aculturam as comunidades indígenas pré-existentes que vão contactando ao longo da sua diáspora.
Em oposição, o modelo indigenista explica-se pela natural e muito gradual evolução cultural das próprias comunidades indígenas de caçadores-recolectores mesolíticos, em resposta a determinismos de ordem ambiental, sendo o contágio das novas modas neolíticas transmitido por contactos de vizinhança e trocas de proximidade com comunidades semelhantes do ponto de vista evolucional.
Contudo, também podemos admitir um modelo de certa forma intermédio. As comunidades nativas de caçadores-recolectores e marisqueiros, pré-existentes na nossa região, denotando já uma tendência para a sedentarização em áreas mais demarcadas, estabilizam-se em acampamentos inicialmente sazonais, nas margens de estuários ou em bocas de rio, junto do mar – favorecidos nichos ecológicos que proporcionavam a exploração de uma abundante e ampla diversidade de recursos. Através de comprovadas redes de tocas a longa distância, próprias das sociedades do final do Mesolítico, terão sido selectivamente importado alguns dos itens do pacote neolítico, dispensando a efectiva movimentação de grupos originalmente neolíticos. Por outro lado, a “troca de sangue” dos casamentos entre diferentes grupos humanos, além de uma instintiva atracção pela diferença e pelo exótico, constitui uma naturalmente necessária estratégia de combate aos riscos genéticos da consanguinidade, tendo introduzido outras inovações culturais, como a olaria, um produto feminino por excelência. Nesta conjuntura, também será de admitir algum grau de contágio directo, com a chegada de pontuais grupos mais aventureiros, provenientes de paragens mais longínquas, neolitizados “a montante” num processo que seguramente decorreu de oriente para ocidente.
Posto isto, algumas observações tornam-se objectivas: temos consciência de diferentes realidades e sensibilidades regionais, um verdadeiro “direito à diferença”; de distintos graus e ritmos de transformação; o mar sempre constituiu uma “via rápida” de disseminação cultural; o nosso território ainda hoje significa uma finisterra geográfica, um “fim do mundo”, o princípio de outro...
Independentemente do modelo e do grau de contacto da revolucionária cultura agro-pastorícia, coloca-se um dilema, de certa forma existencial, às gentes de caçadores-recolectores-marisqueiros por aqui pré-estabelecidas, uma escolha determinante para a sua própria sobrevivência: aderir por interacção e aculturação às novas “modas” neolíticas, ou seja, a sua “neolitização”; ou resistir a uma “colonização” cultural até à extinção.
Uma coisa sabemos com toda a segurança... o Neolítico venceu, as populações misturam-se, crescem, expandem-se e complexificam-se, germinando as futuras desigualdades sociais e intergrupais, antevendo-se, no horizonte, conflitos pelo poder e pelo domínio dos excedentes agrários.
Seja como for, na nossa região, os dados arqueológicos parecem indicar uma certa continuidade, pelo menos ao nível de uma já tradicional actividade económica – o marisqueio. A par da integração dos inovadores itens do pacote neolítico, a apanha de marisco continua bem presente no registo arqueológico durante o Período Neolítico e por diante!
Na área de Sagres, no sítio da Cabranosa, os Serviços Geológicos identificaram, em 1970, um povoado precisamente representativo deste período, datado por Carbono14 de há 6.500 anos (Cardoso e Carvalho, 2003). Desde cedo, os trabalhos ali realizados consagraram bibliograficamente a Cabranosa como um sítio-chave para o entendimento do processo de neolitização do território actualmente português (Ferreira, 1970; Guilaine e Ferreira, 1970; Zbyszewski et al., 1981), sendo consensualmente definido como um acampamento-base, excepcionalmente representativo do Neolítico Antigo regional (Cardoso et al., 2001; Carvalho e Cardoso, 2003; Soares, 1997; Soares e Silva, 2003, 2004).


8 “Neolítico” significa “Pedra Nova”, do grego neo = novo + lithos = pedra, conotado com a novidade da Pedra Polida.
9 Curiosa esta denominação popular, explicada pelo facto de estes machados de pedra polida ocorrerem frequentemente em meios rurais, no decurso de trabalhos de lavoura, que na falta de entendimento para a sua verdadeira origem, mas com a percepção de não se tratar de objectos produzidos pela natureza, foram tradicionalmente associados à queda de raios e utilizados como amuletos de protecção doméstica para as trovoadas.

Ilustrações Vítor Fragoso
Texto Ricardo Soares

A estação do Neolítico Antigo da Cabranosa | Sagres


Na área de Sagres, no sítio da Cabranosa, os Serviços Geológicos identificaram, em 1970, um povoado precisamente representativo dos primeiros momentos do período Neolítico, datado por Carbono14 de há 6.500 anos (Cardoso e Carvalho, 2003). Desde cedo, os trabalhos ali realizados consagraram bibliograficamente a Cabranosa como um sítio-chave para o entendimento do processo de neolitização do território actualmente português (Ferreira, 1970; Guilaine e Ferreira, 1970; Zbyszewski et al., 1981), sendo consensualmente definido como um acampamento-base, excepcionalmente representativo do Neolítico Antigo regional (Cardoso et al., 2001; Carvalho e Cardoso, 2003; Soares, 1997; Soares e Silva, 2003, 2004).
A investigação arqueológica neste povoado permitiu recuperar algumas conchas e um búzio (púrpura), perfurados para adorno, e um conjunto de artefactos líticos (em sílex, quartzo, quartzito, cristal de rocha e grauvaque) e de grandes recipientes cerâmicos (cerca de 17), de assinalável beleza formal e decorativa, alguns dos quais incrivelmente bem preservados e que indiciam ter servido, não para cozinhar alimentos, mas para a sua recolha.
Interessante o facto de algumas das pastas cerâmicas utilizadas nestas peças apresentarem elementos minerais constituintes provenientes da Serra de Monchique, o que pressupõe um território de exploração bastante alargado para os grupos neolíticos da Cabranosa. Estes excepcionais artefactos cerâmicos fazem hoje parte da colecção do Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tendo sido apresentados ao público pela 1.ª vez, entre Abril e Maio de 2011, na exposição Neolítico Antigo em Portugal.
De salientar, mais uma vez, o registo directo de fauna marisqueira (mexilhão, lapa e búzios), mas também indirecto, na decoração “cardial” patente em alguns dos recipientes cerâmicos identificados. Associada a uma corrente de expansão cultural neolítica, de primeiros contactos, difundida por via marítima ao longo da costa mediterrânea, a partir do Próximo Oriente, a cerâmica de tipo “cardial” distingue-se por gramáticas decorativas obtidas pela impressão de conchas de berbigão (Cardium edule - cardial - em forma de coração).
Uma das características das primeiras cerâmicas, produzidas a partir do Neolítico, quando comparadas com as de épocas posteriores, será a sua variedade formal e riqueza decorativa, aspectos que deverão associar-se à novidade tecnológica, à sua emergente importância e ao valor simbólico de que se revestiam. Com o tempo, sente-se a tendência para a perda de expressão simbólica na cerâmica doméstica, em favor de uma simplicidade utilitária, tornando-se as decorações mais funcionais (pegas, asas, perfurações de suspensão, superfícies aderentes), havendo uma transferência e continuidade figurativa na cerâmica votiva de âmbito funerário.


Blogging Archaeology



















Blogging and social media have become indispensable tools for archaeologists in recent years. Academic and cultural resource management projects are utilizing blogging and social media for outreach and in classroom settings. The sharing of archaeology news and information by archaeologists and journals is a primary source of up to the minute information for many. A number of blogs are aimed at providing the public with information on either a single topic or a range of related topics. With all the benefits to blogging and the use of social media in archaeology there are still issues to overcome. The problem of relating site and project information to the public while maintaining anonymity of the parties involved and keeping site locations confidential is something that every archaeologist struggles with. In this session we will examine the ways archaeologists use social media and blogging and how problems related to the use of social media can be overcome.

Projecto ProPEA | Vila do Bispo


«As características geomorfológicas de extensas áreas do Algarve revelam-se favoráveis à presença de formações cársicas, incluindo as cavidades naturais calcárias, de que se conhecem vários exemplos numa ampla faixa geográfica que se estende do extremo Barlavento ao Sotavento, englobando parte significativa destes territórios. A importância de conhecer as grutas do Algarve tem sido reiteradamente propalada por diferentes investigadores desde há mais de um século, sendo o interesse destas reconhecido em diferentes matérias do conhecimento, sobretudo a Geologia, Arqueologia, Paleontologia e Biologia. Apesar deste facto e da actuação no Algarve de diversas entidades relacionadas com a actividade espeleológica, poucos são os trabalhos publicados subordinados à pesquisa do meio subterrâneo natural no Algarve, permanecendo este, em boa parte, escassamente conhecido. Tal situação conduz a uma vulnerabilidade acrescida do referido património em face da pressão humana, atendendo a que, por desconhecimento, poderão muitas destas cavidades naturais ser afectadas ou mesmo obliteradas, principalmente pela construção ou em consequência da laboração de pedreiras, ou ainda, simplesmente por entulhamento ou utilização como vazadouro de detritos, situações que ocorreram no Algarve e que têm conduzido a graves problemas ambientais em diversas regiões calcárias.

O registo e a exploração das cavidades do Algarve irá seguramente fornecer um contributo fundamental para a interpretação dos respectivos sistemas cársicos e existem fortes probabilidades de se proporcionarem descobertas significativas ao nível da arqueologia assim como no âmbito de outras ciências. Neste enquadramento, o trabalho preconizado no projecto ProPEA consiste fundamentalmente na identificação e inventariação das cavidades calcárias existentes no Algarve e avaliação preliminar do respectivo potencial num quadro pluridisciplinar, considerando quer o património cultural, quer o natural. Para o efeito procurar-se-á estabelecer uma franca articulação de colaborações entre diferentes entidades, nomeadamente a Direão Regional de Cultura do Algarve, Universidade do Algarve, autarquias, associações de espeleologia, e outras cujos contributos para o projecto venham a assumir relevância.»

A necrópole moçarabe do Padrão | Raposeira

Em 1994, aquando das escavações arqueológicas realizadas junto ao menir 1 e 2 do Padrão, cujo objectivo seria a caracterização de uma associável jazida do Neolítico Antigo, Mário Varela Gomes, o responsável pela investigação, acabou por descobrir, também, uma necrópole de 10 sepulturas atribuíveis a antigos rituais funerários cristãos, datáveis entre os séculos VIII e IX, ou seja, um período de plena ocupação islâmica que admitia a presença de comunidades cristãs "moçárabes". 
Além dos menires, abundantemente documentados naquela área, possivelmente integráveis em cronologias do Neolítico Antigo (recorde-se, para o efeito, que o próprio menir 1 do Padrão poderá ser associável a uma datação radiocarbónica com um intervalo temporal entre 5480 e 5242 cal. a.C.), a investigação arqueológica no Padrão assinalou, também, uma necrópole romana e outra da Alta Idade Média (abaixo descrita), o que atesta uma certa continuidade na exploração mágico-religiosa do local, certamente "inspirada" nos menires - os mais remotos monumentos erguidos no local. 

Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve | o Padre Manuel Madeira Clemente

Foi inaugurado no Museu de Portimão, em 1 Abril 2014, o périplo dos "Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve". 
Estes 11 ilustres personagens da História da Arqueologia Portuguesa vão visitar 10 instituições integradas na Rede de Museus do Algarve
Conduzidos pelo nosso saudoso "pioneiro", o Padre Manuel Madeira Clemente, vão também passar pelo Centro de Interpretação de Vila do Bispo, em Dezembro de 2014.


A partir do dia 1 de abril, estará patente no Museu de Portimão a exposição itinerante “Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve”, produzida conjuntamente por dez instituições pertencentes à Rede de Museus do Algarve e, pela primeira vez, consagrada a 11 figuras com trabalhos e legados relevantes para o conhecimento histórico e científico sobre esta região.
Depois da exposição “Algarve - Do Reino à Região”, os museus algarvios voltam a unir-se, desta vez em torno do projeto comum “Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve”, o qual incide sobre a geração de personalidades que, desde os finais do século XVIII até ao século XX, procuraram esclarecer e fundamentar os contornos da identidade do país, através do estudo da história e da cultura popular, designadamente na região algarvia.
A exposição ficará patente no Museu de Portimão até ao dia 27 de abril, altura em que se seguirá a sua itinerância pelos vários concelhos e museus de Albufeira, Silves, Loulé, Vila Real de Santo António, Lagoa, Lagos, Vila do Bispo, Tavira e São Brás de Alportel.
O leque de personalidades apresentadas vai de José Sande Vasconcelos a Estácio da Veiga, passando por Santos Rocha, Ataíde Oliveira, José Leite Vasconcelos, José Formosinho, Estanco Louro, Padre Manuel Madeira Clemente, Padre Nunes da Glória, Padre Semedo de Azevedo e João Grade, uns por serem naturais da região e outros porque se debruçaram sobre as comunidades locais, revelando a forma pioneira como estudaram e registaram a paisagem social, científica e cultural do Algarve.
Grande parte destes pioneiros, interessados nas “coisas do povo”, destacaram-se no panorama de um período que se caracterizou pela crescente multiplicação de investigadores e estudiosos locais, e nas primeiras aproximações à arqueologia, etnografia, histórica local, ciências e literatura oral determinantes na definição de uma identidade regional, contribuindo desse modo para a construção de algumas representações do Algarve e da sua cultura popular, as quais ainda hoje prevalecem.